quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Terras do Xisto 2006 - Dia 1

22 de Agosto de 2006 – Dia 1
Nove da manhã. Acordo com o sol a bater-me na cara e com insectos a voarem irritantemente perto da minha cabeça. Agora me lembro, já não estou na minha cama no Fundão, mas sim num pinhal perto de Bogas do Meio. Mas Bogas do Meio nem sequer é aldeia do xisto, porque viemos até cá? Partimos na noite anterior do Fundão em direcção à Barroca para um primeiro checkpoint mas ao chegarmos a Lavacolhos encontrámos uma festa popular em honra de um qualquer orago. Pois bem decidimos parar para refrescar as gargantas secas com vinho. O Manolo diz que não gosta de vinho, vai ter que se habituar e nada melhor que um branco traçadinho para começar. Eu e o Marquito como somos os mais velhos damos o exemplo e bebericamos um calicezinho de tinto como os “Antigos”. Dirigimo-nos então ao recinto das festividades onde nos deparamos com uma velha glória ao microfone, nada menos que Leonel Nunes, o homem do cacete. Após termos sidos satisfeitos do pedido de cantar os parabéns ao Bio seguimos viagem para Silvares onde cumprimos nova paragem no renovado Mundo’s. Mais umas quantas taças de tinto depois estamos a seguir para a Barroca onde iniciamos uma tradição de viagem: tirar foto junto da placa indicativa da localidade. Mas ao encetarmos tal actividade somos perturbados por dois elementos da Guarda Nacional Republicana que por certo pensavam que queríamos levar a placa para venda de alumínio no mercado negro. Feitas as apresentações e tiradas as conclusões lá nos despedimos com desejos de boas noites e seguimos para a primeira aldeia do xisto, Barroca. Quão desiludidos nós ficámos ao constatar que o xisto é praticamente inexistente na Barroca. Talvez tenha sofrido muitos ataques do animal misterioso conhecido como Caxisto, uma criatura que aparentemente se alimenta de xisto. Ao não encontrarmos sequer um local para diversão condigna seguimos (por engano) para Dornelas do Zêzere onde nos enviam de volta para a Barroca e finalmente encontramos dois jovens que nos revelam existir uma festa em Bogas do Meio “com DJ e tudo”. Ora nem mais, pensámos nós. Rumo às Bogas do Meio (uma festa a visitar no próximo ano sem dúvida) entramos com espírito folião nas festividades e quando demos por nós estávamos em plena celebração com os Sons do Zêzere ao som da “Chouriça Negra”. Mais tarde, com pão de quartos a acompanhar o vinho tinto e a cerveja, embrenhámo-nos na populaça festiva dançante ao som do vocalista da banda que cantava “Ernesto tira a roupa, tira a roupa Ernesto” de modo a que um local cheio de vitalidade e empenho em mostrar os abdominais fizesse uma sessão de striptease para as senhoras e meninas presentes. Não só cumpriu a tarefa com total sucesso como ainda se vestiu de senhora e se passeou ao som da música. Conhecemos ainda um rapaz trabalhador na madeira emigrado em França chamado Gilberto que nos pagou alguns copos (que é como quem diz que nos chegámos ao balcão e nos apoderámos deles) e chegadas as cinco da manhã viemos dormir para este pinhal. Devo confessar que dormir bastante mal por duas razões, a primeira prendendo-se com o facto de estar a dormir no chão pela primeira vez em vários meses; a segunda por causa do Rui que ronca como um porco mesmo ao meu lado. E assim se passou a primeira noite de viagem. Concerteza um bom prenúncio para o resto da viagem.
Duas da tarde. Almoçamos num parque de merendas perto do parque de campismo de Janeiro de Baixo, depois de já termos estado em Janeiro de Cima, uma bela aldeia com um bonito bairro constituído por cerca de duas dezenas de casas em xisto (o nosso primeiro contacto com xisto). Tivemos também o nosso primeiro baptismo em Janeiro de Cima, numa praia fluvial com excelentes condições, a melhor em minha opinião que encontrámos em toda a viagem. Baptismo esse que o Rui, Manolo e Marquito repetiram na praia de Janeiro de Baixo. Como aldeia do xisto, Janeiro de Baixo é claramente inferior a Janeiro de Cima uma vez que tem muito menos casas de xisto e estão muito mais dispersas pela aldeia. Durante o almoço o Rui escreveu estas linhas no meu bloco de notas que passo a citar aqui:
“Agradeço a Deus por estar a escrever estas linhas uma vez que a Benedita me ia ceifando o mindinho. À parte desse incidente tudo corre pelo melhor: o moral das tropas continua em alta; o vinho continua a jorrar, qual catarata do Niágara; as aldeias do xisto continuam intactas apesar da funesta ameaça do Caxisto continuar a pairar por estas bordas.”
Seguimos viagem em direcção a Pampilhosa da Serra, onde paramos para pedir indicações para Álvaro, a próxima aldeia no trajecto. Um rapaz algo amaricado lá nos indica o rumo certo a tomar e cerca de meia hora depois (e umas 100 curvas tambem) chegamos a Aldeia de Álvaro, uma localidade situada à beira do rio Zêzere com a praia fluvial como principal atracção. E digo praia fluvial porque mais uma vez, xisto nem vê-lo. Baptismo concluído e pausa para refresco e pão de quartos seguimos viagem para Fajão. Situada às portas da serra do Açor, Fajão foi finalmente um regalo para os olhos no que diz respeito a aldeia de xisto. As casas completamente forradas desta pedra, nem os telhados escapavam, e as ruas estreitas igualmente de xisto preto. Uma localidade que serviu de base para a segunda noite, com direito a refeição confeccionada por profissionais no Juiz de Fajão (o único restaurante da aldeia) para acompanhar a vitória do glorioso por 3-0 sobre o Austria Vienna. Após o jantar fomos ao único café/mini-mercado da aldeia para refrescar as gargantas e conversar com a proprietária sobre a localidade. Descobrimos que para além de café e mini-mercado acumulava também as funções de taxista da aldeia (um clássico exemplo de monopólio capitalista) e finalmente chegada a meia noite somos gentilmente convidados a sair do estabelecimento e procurar lugar para passar a noite. Alguns minutos depois come-se um pão de quartos para aconchegar o estômago e seguimos para o miradouro da aldeia, localizador já fora do centro da aldeia (onde não eram admitidos carros, nem para cargas como nos confessou, queixosa a proprietária do mini-mercado). Um coreto portanto seria onde passaríamos esta segunda noite, que seria interrompida alguns minutos antes das duas da manhã por um grupo de jovens dos 12 aos 25 anos oriundos da capital que passavam férias numa localidade ali perto chamada Casal Novo, e procuravam o coreto ocupado por nós para descansar por umas horas. Conversámos um pouco com eles e oferecemos vinho tinto traçado com 7up (dizendo que era groselha) e algumas bolachas que a benjamim do grupo devorou num ápice. E foi assim a 2ª noite da viagem, sem sobressaltos de maior, apenas com mais picadas de insectos para chatear.

2 comentários:

Shiva disse...

Não é "bordas" mas sim "bandas" :D

Shiva disse...

Eu não ressono!