segunda-feira, 25 de setembro de 2006

O Dilúvio Escarlate

Dentro da temática ultimamente debatida no blog, também eu gostaria de expressar as minhas opiniões sobre a cruz e o garrafão (maioritariamente) na perspectiva de uma pessoa com alguma experiência nestas andanças que se vê sozinha entre milhões na capital poruguesa.
Não é de agora, mas mais uma vez acontece-me que digo para mim próprio enquanto estou sentado numas escadas no bairro de Santos "Vou desistir de sair à noite aqui, não me consigo adaptar". Foi então que me lembrei que, passe o egoísmo, talvez não se passe nada de errado comigo mas sim com as pessoas que passam a minha frente.
Muito me entristece ver de facto a minha geração na grande maioria e mais preocupante ainda a próxima geração cair às tentações da vida citadina. Sim porque na minha óptica a cruz e o garrafão deixaram de andar de mãos dados devido ao fenómeno das grandes cidades. Senão atentem nos vossos olhos quando deambularem pelas noites citadinas (referindo-me obviamente aos grandes centros urbanos portugueses), não encontramos o culto do garrafão em lado nenhum e o mais próximo que encontramos é a profanação chamada sangria.Como todos sabemos a sangria está para o vinho como o a masturbação está para o sexo, um substituto de recurso que não está ao nível do autêntico.De facto toda a degeneração da cruz na sociedade portuguesa também está assente na modernização (necessária) dos idos costumes do Estado Novo. Hoje em dia um jovem de 16 anos prefere deslocar-se de táxi ou no carro dos pais (pobres diabos) até ao estabelecimento nocturno da moda (alusão ao fenómeno das revistas sociais, cor-de-rosa que nascem como cogumelos) para beberricar uma bebida da moda custando ao bolso dos progenitores qualquer coisa como 10% de um salário mínimo nacional por noite. Porque não deslocar-se à tasca do bairro onde o senhor Joaquim serve bom vinho por 20 cêntimos o cálice? O "drunken stupor" é mais facilmente atingido caso seja esse o objectivo, ou em alternativa pode-se sempre beberricar o néctar dos deuses (saudável como sempre) em vez de uma qualquer mistela adubada vinda de leste misturada com sumo de fruta podre.
Imaginemos agora que estamos com mais 10 ou 15 anos, casados e em vias de ser pais. Será saudável criar uma criança num ambiente altamente nocivo (urbano) onde não poderá conviver naturalmente com crianças da sua idade fora do horário escolar, onde não poderá brincar na rua até o sol cair, onde não poderá andar de bicicleta ou skate até se fartar de cair. Todas estas aprendizagens são fundamentais na construção do carácter adulto. A criança que nunca andou de bicicleta vai ter medo de cair quando tiver que a montar. De facto não é uma experiência nova para mim encontrar pessoas que viveram a sua infância numa redoma protegidos de tudo o que os rodeava, e ao mesmo tempo privados desse mesmo ambiente. Não é desta forma penso eu que se deve criar a próxima geração. Num momento em que também a sociedade lança alertas sobre a destruição do planeta, qual será a importância que a criança de hoje, adulto de amanhã dará à flora e fauna, se a sua noção de flora é a relva que serve de WC à fauna que tem a viver no seu T2.
Da mesma forma podemos mostrar que a vida saudável do campo é amiga do convívio e também da introdução preparatória aos flagelos da juventude, o alcoól e as drogas. Mas enquanto que a vida rural apenas nos apresenta estas facetas na sua forma mais pura mostrando-nos como desfrutar delas sem cair em tentação (como prega o bom livro), a vida citadina mostra-nos apenas as tentações sem nos apresentar limites. Enfim a sociedade citadina poderá ser completamente encarada como uma Sodoma e Gomorra moderna e apenas os mais astutos saberam enxergar a salvação através do garrafão e da cruz.
A geração "Morangos com açúcar" posso dizer a plenos pulmões não atingirá a salvação pois chegará o dia onde apenas os ébrios de espírito sobreviverão, um dilúvio escarlate a que apenas os mais sedentos escaparão.

4 comentários:

Joao Martinho disse...

de facto parece-me deveras interessante, arranjarmos uma marca de champô TiMtol, um par de gajas com grandes seios e cabelos sedosos para o publicitar nuns outlets gigantes da 2ª circular, dar uns cobres à TVI para passar nos intervalos dos morangos e pronto, a revolução em marcha, história em movimento.

Psynoia disse...

Bravo...
Bravo...

Digno de um Naniko

bukowski disse...

Cruzes canhoto!

rui jacaré disse...

Eu já não lavo o cabelo há alguns anos mas com um champô desses sou gajo pra lavá-lo umas 3 vezes por semana!

Boa ideia!

Siga a marcha!