sábado, 16 de agosto de 2008

Euskal Herria Tour – Vitoria-Gasteiz

5/08/08

Acordo debaixo de uma árvore importada da China num jardim de Vitoria-Gasteiz por volta das dez da manhã. Metido no meu saco de cama sinto as pedras do chão húmido morderem-me as costas. Com a preocupação de não ser roubado, o constante movimento dos noctívagos, os petardos ocasionais e a imensa palestra de Carlos à sua (ex-)namorada, pouco ou nada dormi, mas agora também não vale a pena tentar. O cheiro a merda, qual rottweiler, nunca me largou o olfacto durante toda a noite, por isso ponho-me de pé e calço as sandálias e preparo-me para partir. Os outros quatro montañeros também já despertam com os raios matinais filtrados pelos ramos daquele albergue natural. A cidade há muito que está de pé. Celebram-se as fiestas da Virgen Blanca e não muito longe do sítio onde estou ouve-se o som de uma banda e vêem-se centenas de balões de hélio que bailam no ar.

Não podíamos ter chegado em melhor altura, portanto. O desembarque foi aliás apoteótico. Às 4.23 da manhã, dezenas de pessoas preenchiam as kalea do centro de Vitória. Depois de 12 horas de viagem, o som metálico de latas de cerveja pontapeadas por jovens desperta-nos do nosso torpor. De mochilas e sacos de cama às costas percorremos as artérias da cidade em busca do primeiro tasco onde beber una caña. “Força montañeros!” “Onde van?”, perguntam-nos grupos de miúdas de beleza indescritível. Avançamos por aquele mundo novo e as primeiras impressões confirmam-se: festa, cerveja, música, boa-disposição e miúdas a rodos. “Digam que querem follar e que o vosso saco de cama dá para dois”, aconselha-nos Carlos, um gajo que se meteu connosco na rua. Não é a melhor dica, mas quem sabe se não resulta na capital da Euskal Herria?

Será que é aqui que vamos encontrar a nossa felicidade? Fizemos Santa Apolónia –Vitoria-Gasteiz num comboio carregado de sonhos. Cada um viaja em busca da peça do puzzle que dê sentido à sua vida, que o oriente na sua deriva. Há caminhos e motivações para todos os gostos. O português desdentado e de braço ao peito que se quer vingar dos ciganos que o deixaram naquele estado lastimável por causa de uma mulher. Parte para Bilbao para se encontrar com Juan e regressar a Portugal para “morder naqueles gajos”. O psicólogo, socorrista, peregrino e, acima de tudo, o bêbado Álvaro, que vai trilhar os caminhos de Santiago em busca de uma benesse divina. Depois há todos os montañeros como eu, o Marquito, o Sá, o MC e o Manolo, que não sabemos ao certo ao que vamos.

Se a ideia é “puxar a mil”, como não se cansa de dizer Manolo, então esta cidade parece perfeita. De momento a prioridade é encontrar uma pensão e tomar o pequeno-almoço. Saímos debaixo da árvore, cujos ramos fazem lembrar um guarda-chuva, e de mochila às costas partimos em busca desses dois objectivos.