sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Canto épico para um ano épico

Canto III

Depois do amplo e divino banquete, o grupo unido pela força de Zeus
dirigiu-se para a imponente Praça do Comércio, espaço dedicado à glória de Apolo.
As Moiras desfiaram então o restante lote destinado ao ano de dois mil e oito
até que a Noite Meridional esvoaçou pelos céus húmidos da cidade de Ulisses,
anunciando aos mortais e à terra dadora de cereais a entrada do novo ano.
Então todo o grupo unido pela força de Zeus desfez-se em longos abraços,
comovido por ter chegado dois mil nove, tempo grávido de desejos e esperanças.

Felizes com a alegria humana, as divinas Tágides subiram das águas do Tejo
e entoaram um cântico sobrenatural que a todos deleitou no coração,
enquanto Zeus fez explodir nos céus lacrimosos um fogo imortal.
Maravilha de se ver! Bolas de todas as cores que o arco-íris tem
explodiram no ar, cobrindo-o com um divino manto branco.
Encantados, os mortais ergueram as suas garrafas ao ar
e espalharam champanhe e espumante uns sobre os outros
para agradecer ao pai dos deuses o espectáculo único que lhes proporcionara.
Então a divina Andreia, excelente nas artes de adivinhação, tomou a palavra:
“Companheiros de tantos infortúnios, este estranho portento do poderoso Crónida
significa que teremos um ano fértil e cheio de alegria e que Ceres
não nos faltará com os seus cereais, nem Apolo com as criações artísticas.”
Assim falou e todos concordaram, pois falara na medida certa.

O grupo unido pelo força do deus da nuvem azul, ao qual se unira
o ponderado e divino Iúri, filho da Lei e da Justiça, seguiu então
para casa da popular Maria, melhor anfitriã entre as mulheres, conhecedora
de todos quantos habitam na irrepreensível cidade de Ulisses de mil ardis.
Para deleite de todos a festa continuou, até que Strikybuni de belas tranças
deliberou com voz firme para que todos no seu espírito a ouvissem:
“Companheiros de feitos imortais, segui-me até ao meu acolhedor lar,
pois declaro lá haver iguarias únicas feitas por minhas mãos virtuosas
e vinho proveniente da altiva e forte cidade da Guarda.
Acompanhai-me agora, ó companheiros, para que vos possa mostrar
a minha sólida e perene habitação onde o fogo sagrado arde todo o ano.”
Assim deliberou e todos acataram de bom grado palavras tão acertadas e justas.

No lar cálido de Strikybuni há um imenso terraço acima de todos os telhados da cidade.
Maravilha de se ver! Aí os gatos sagrados, animais de estimação da divina Afrodite,
passeiam sem medo, pois sabem que a afável Strikybuni não lhes faz mal,
o que agrada à deusa nascida do mar nunca vindimado.
Foi aí que Bojo, mortal de humanismo inigualável, Sapec, de canto gregoriano,
Rita de sorriso puro, Bukowski, de coração predisposto para a guerra, Solid,
de longas e divinas rastas que o impedem de envelhecer, a divina Andreia
e o insolente Shiva, amaldiçoado pelos deuses, se reuniram,
pois todos os outros já tinham partido para os seus lares imortais.
Strikybuni de belas tranças distribuiu então por todos
baba de camelo, iguaria que Afrodite lhe ensinara a fazer,
filhoses douradas, receita da Posídon, sacudidor da Terra,
e vinho proveniente da íngreme Guarda, cidade acima de todas as outras.
Quando todos afastaram dos seus corações o desejo de bebida e comida,
a divina Rita, filha de Santo António dos Cavaleiros, combatente na guerra dos Titãs,
tomou então a palavra para que todos no seu espírito a escutassem:
“Companheiros de todos os bons e maus momentos, pressinto no meu coração
que a que cedo desponta, a Aurora de róseos dedos, não tardará a aparecer
para dar luz aos deuses, aos homens e à terra dadora de cereais.
Mas antes disso quero sacrificar no meu lar acolhedor
doze touros sagrados em memória dos meus antepassados
para que de mim se não esqueçam e me favoreçam sempre.
Aproveito por isso para me despedir e agradecer a todos
esta noite, que não esquecerei enquanto o nevoeiro da Morte
não se derramar sobre os meus verdes e brilhantes olhos.
Espero que todos agarrem dois mil e nove com as duas mãos
e espremam dele tudo o que de bom estiver reservado para vós.
Obedeçam aos deuses e nada vos faltará na terra dadora de cereais.
Um óptimo dois mil e nove, ó companheiros irrepreensíveis!”

Assim disse e aos presentes agradou o equilibrado discurso,
pois dissera todas as palavras na medida certa.
O divino Bojo, mortal de um humanismo inigualável,
Sapec, homem dado a hospitais e ao canto gregoriano,
assim como Solid, de rastas imorredouras, e a divina Andreia,
aproveitaram também para se despedirem e partirem
para os seus sólidos lares, para se deitarem em seus leitos imaculados.
Ficaram em casa de Strikybuni de belas tranças o belicoso Bukowski
e o insolente Shiva, amaldiçoado pelos deuses por ter desrespeitado Afrodite.
Ambos pernoitaram aí, até que a Aurora de róseos dedos surgiu no firmamento
para anunciar aos mortais e à terra dadora de cereais um novo ano no Mundo
governado pelo portentoso Zeus, detentor da égide.

1 comentário:

bukowski disse...

Shiva, a pena desliza-te nas mãos como o gládio flamejante do arcanjo: 2009, uma bela odisseia alfacinha.

Para os mais distraídos, o nosso Homero embebeda-se com forcados e tem uma coluna na “Bola”, mítico manancial onde jorram grandes promessas literárias.