"O álcool é a mais perigosa, actuante-nociva droga circulando neste "país das uvas". O facto, publicamente aceite e reconhecido no Seminário sobre a Problemática das Drogas, na Gulbenkian, deriva, em grande parte, das carências alimentares do povo português, as quais entroncam, por sua vez, numa tradição de subdesenvolvimento e indigências primárias. A necessidade imperiosa de obter calorias, via álcool, a fim de aguentar-acompanhar um rude ritmo braçal, laboral, nos campos e nas fábricas, na pesca do mar ou num leque de mal remuneradas actividades urbanas e suburbanas, tem contribuído para suprir as deficiências económicas e alimentícias, a miséria existencial e as indignas condições assistenciais e sanitárias de grande percentagem da população. Acresce o tradicional preço "em conta" do vinho, a facilidade da sua obtenção (locais e horário), a falha de uma política que vise estimular o convívio, o recreio e a animação cultural, o afastar os homens, construtivamente, da taberna. Enfim, em certa medida perdura o mito da famigerada campanha de Salazar ("Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses" ou o "slogan" educacional (ultrapassado) de "quem não bebe vinho, não se faz um homem". Com efeito, as calorias indispensáveis ao sustento de uma deficiente nutrição que apenas concorreu para o agravamento, bestialização, aprisionamento do homem físico e psíquico (...)."
Resta dizer que o texto foi escrito por João Alves da Costa e encontrei isto no prefácio de "Droga e Prostituição em Lisboa" 4ª edição de Novembro de 1983, que entre outras pérolas conta também a história de Custódio Jacinto Gato Amaro, jovem ex-jogador do Lusitano de Évora que caíu em desgraça depois de "beber uns úisques e fumar haxixe e ervas". Aquele que ficou conhecido pelas planícies do Alto Alentejo como Eusébio Branco mas que acabou em desgraça depois de se apanhar com um "milionário ordenado de 35 contos por mês". Fantástico.
Retroauricular#20161230
Há 7 anos
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