segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

QUARESMA OU MOURINHO: ARTE OU CIÊNCIA


Poderá a criação humana vencer a frieza da máquina?


"A bola vai no ar, quase planando como um ser superior, voando em direcção à baliza de Cech depois de sair da bota mágica de Quaresma. Uma parábola que é, durante longos segundos, uma sedutora promessa de golo. Os olhares seguem-na ansiosos. Com ela ia o sonho da arte vencer a ciência. Da criação humana vencer a frieza da máquina. Sim, este é ainda um texto sobre futebol. Sobre um confronto que faz muitos momentos do jogo quase parecerem um duelo bíblico entre o bem e o mal. Mourinho regressou ao Porto no seu tradicional estilo blazé. Roupa escura e barba de três dias. A chuva, o céu nublado e o nevoeiro de Londres são a moldura perfeita para o futebol do Chelsea. Uma nuvem escura a planar sobre cada jogo que, ao mais pequeno gesto do seu mentor, faz chover. Talvez o futebol seja um desporto. Para Mourinho, é uma ciência. Acelerou o jogo quando quis. Leia-se Robben. Colocou-lhe um bloco de gelo em cima, depois. Leia-se Obi Mikel. Festeja os golos quase como um ponta-de-lança e quando sair de Stanford Bridge deixará alguém ainda mais poderoso. O seu fantasma. Como no Porto, afinal. Não existem tentações artísticas e quando Drogba recua em cada bola parada, percebemos que, em Londres, os autocarros têm todos dois andares.

(…)

O resto depende da vontade da bola. Sim, o mesmo instrumento de arte ou ciência que voava em direcção à baliza de Cech. Aproxima-se dela. Parece que vai entrar. Bang! Na barra. Mãos na cabeça, os olhares voltaram a escurecer. Quaresma encolhe os ombros. É duro viver com a realidade. Voltem a fechar os olhos e imaginem que aquela bola entrou. Como o mundo seria mais belo. E o futebol também."


Luís Freitas Lobo

5 comentários:

Shiva disse...

Os textos do Luís Freitas Lobo são excepcionais. Pelo deslizar da sua pena ressuscitam heróis, semi deuses e divindades que se degladiam lá em baixo no relvado através de 22 jogadores de carne e osso. Muito mais do que três pontos, ou a conquista da taça, ao longo dos 90 minutos o Homem luta pela supremacia dos seus valores morais, metafísicos e artísticos, num cosmos em que haverá sempre vencedores de um lado e vencidos do outro. É uma batalha incessante que se renova todos os Domingos; é o lado transcendente da esfera que dá sentido à famosa frase de Bill Shankly, antigo treinador do Liverpool FC: "Algumas pessoas dizem-me que o futebol é uma questão de vida ou de morte. Fico muito desapontado com essa atitude. Posso garantir-lhes que é muito mais do que isso."
Concordo incondicionalmente com ele. Afinal de contas, sem a parte simbólica o que seria a vida do Homem senão um mero nascer-viver-morrer?

Anónimo disse...

Carta do outro Deus

Agora recordo e percebo o teu rosto de satisfação ruizinho, o teu tremer angustioso como quem vê um fantasma ou sonho tornado real, dos teus olhos sedentos da presença do "tal", do deus terreal por tudo que é campo de futebol.
Ainda oiço o choro alegre e dos gritos soltos guardados desde que eras crianças, das vénias de meia hora a três quartos de hora, do perfume dos seus movimentos e da magia inesgotavel que nos habituou.
Cientista de sangue mas artista por condição, a sua capacidade de enamorar : perfeita,única redonda(mente) com a nike, a adidas, com a velha diadora ou qualquer outra que me tenha ousado ou ouse fazer frente foi e será sempre- a ti e a todos os Luís F. Lobo o "tal",o gladiador, a divindade,o mago, o maior, o numero 8, o xicoxico !

xico ao quadrado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
xico ao quadrado disse...

Acho que mereço uma estátua....

rui jacaré disse...

Cona também é fixe.