
Poderá a criação humana vencer a frieza da máquina?
"A bola vai no ar, quase planando como um ser superior, voando em direcção à baliza de Cech depois de sair da bota mágica de Quaresma. Uma parábola que é, durante longos segundos, uma sedutora promessa de golo. Os olhares seguem-na ansiosos. Com ela ia o sonho da arte vencer a ciência. Da criação humana vencer a frieza da máquina. Sim, este é ainda um texto sobre futebol. Sobre um confronto que faz muitos momentos do jogo quase parecerem um duelo bíblico entre o bem e o mal. Mourinho regressou ao Porto no seu tradicional estilo blazé. Roupa escura e barba de três dias. A chuva, o céu nublado e o nevoeiro de Londres são a moldura perfeita para o futebol do Chelsea. Uma nuvem escura a planar sobre cada jogo que, ao mais pequeno gesto do seu mentor, faz chover. Talvez o futebol seja um desporto. Para Mourinho, é uma ciência. Acelerou o jogo quando quis. Leia-se Robben. Colocou-lhe um bloco de gelo em cima, depois. Leia-se Obi Mikel. Festeja os golos quase como um ponta-de-lança e quando sair de Stanford Bridge deixará alguém ainda mais poderoso. O seu fantasma. Como no Porto, afinal. Não existem tentações artísticas e quando Drogba recua em cada bola parada, percebemos que, em Londres, os autocarros têm todos dois andares.
(…)
O resto depende da vontade da bola. Sim, o mesmo instrumento de arte ou ciência que voava em direcção à baliza de Cech. Aproxima-se dela. Parece que vai entrar. Bang! Na barra. Mãos na cabeça, os olhares voltaram a escurecer. Quaresma encolhe os ombros. É duro viver com a realidade. Voltem a fechar os olhos e imaginem que aquela bola entrou. Como o mundo seria mais belo. E o futebol também."
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O resto depende da vontade da bola. Sim, o mesmo instrumento de arte ou ciência que voava em direcção à baliza de Cech. Aproxima-se dela. Parece que vai entrar. Bang! Na barra. Mãos na cabeça, os olhares voltaram a escurecer. Quaresma encolhe os ombros. É duro viver com a realidade. Voltem a fechar os olhos e imaginem que aquela bola entrou. Como o mundo seria mais belo. E o futebol também."
Luís Freitas Lobo