quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Xico Xico sofre da doença poeta diabolicus

Xico Xico, jovem nanikiano de 22 anos, sofre de uma doença rara conhecida na comunidade científica por "poeta diabolicus". Foi o pai, Francisco Elias, médico no Hospital do Fundão, quem diagnosticou na quarta-feira a enfermidade do filho.

Há duas semanas atrás manifestaram-se os primeiros sintomas do "poeta diabolicus" no jovem. Todas as madrugadas, Xico Xico começava a recitar a partir da sua cama poemas românticos, evoluindo posteriormente para os modernistas. Contudo, este comportamento bizarro não preocupou nenhum dos familiares. “A princípio pensávamos que fosse apenas uma brincadeira”, contou o pai com uma voz pesarosa. E concluiu: “A poesia até nem era de muito má qualidade e enchia a casa de alegria”.

Foi apenas na segunda semana que a família compreendeu que se tratava de algo bem mais grave do que um simples devaneio. “Quando começou a declamar poesia mística percebi que se passava alguma coisa de estranho”, contou a irmã, Catarina Elias, cujas olheiras denunciam noites muito mal dormidas. Frases obscuras como “fogueiras de pautas de música que aquecem a noite, cortam os lábios, queimam os olhos, agoniam os ventos inquietos” ou o “padeiro faz da farinha pão e as mães não tardam da água chá”, perturbaram o sossego familiar. “O meu filho tornou-se incomunicável”, queixou-se a mãe. “A nossa cadela uivava de uma forma arrepiante sempre que o ouvia declamar aqueles versos estranhíssimos a altas horas da madrugada”, contou. Perante indícios tão perturbantes, Francisco Elias auscultou o filho, concluindo de imediato que os seus sintomas correspondiam aos do "poeta diabolicus".

A doença foi diagnosticada pela primeira vez no século XVIII em alguns monges beneditinos que viviam no convento de Poitiers (França). Os sintomas são uma vontade compulsiva de recitar poesia ou frases delirantes sem nexo aparente. Contudo, apesar de desagradável, o "poeta diabolicus" não é mortal. O nome deve-se à crendice popular, pois acreditava-se que as suas vítimas eram possuídas por um espírito maligno que as obrigava a declamar permanentemente poesia ininteligível e de má qualidade. Pela sua raridade, não tem cura. “Seria quase uma bizantinice estar a dispensar recursos materiais e humanos para investigar o "poeta diabolicus", explicou Luís Lobo, Presidente da Associação Médica da Região Centro do País à Beira Mar Plantado (AMRCPBMP).

Neste momento Xico Xico encontra-se em observação no Hospital do Fundão. Mais do que descobrir a cura, a principal missão dos médicos passa por fazer compreender ao jovem a máxima poeta nascitur, non fit (“os poetas nascem, não se fazem”).

1 comentário:

bukowski disse...

a tua prosa não é digna da poética grandeza do xicoxico.