domingo, 5 de novembro de 2006

A verdadeira história de Marrusso: Capítulo 7

Obrigar-me-ia a levantar para ver a indecência, mas era a última coisa que me apetecia fazer. Não queria acreditar, a minha cabeça imaginava o que as palavras não ousam descrever. Bebi um valente trago de whisky. O whisky era mau. Whisky destilado do cú da garrafa. Comecei a ter calafrios, uma vontade impossível de sacudir todo o corpo como um burro quando sacode as orelhas. Fiquei ali, entre whisky barato e as conquistas territoriais de Marrusso e Joana. Finalmente, ela despiu-se. Parcialmente. A carne pálida de Joana transbordou da camisa e o seio esquerdo foi o primeiro a topar-me. Olhei para a teta com indulgência. Marrusso também. Depois teve um frémito de confiança. Queria ser um valente Don Juan e arrancar tudo à bruta. Mas tinha medo da reprovação de Joana. Começou a sentir nojo de si próprio. Afinal Marrusso tinha uma namorada, uma etiqueta, uma boa família e uma esmerada educação. Amor louco, sim, mas com limites. Joana não queria portagens. Nem sequer deixou as meias ou as botas de Inverno que a avozinha lhe oferecera. A Joana não lia as revistas da moda, inventara a sua própria moda. Marusso não parava de beijá-la, mil vezes, sem parar, no pescoço enquanto desapertava os botões; depois, roçava o nariz como um tolo esquimó enquanto assobiava uma música de Chet Baker. A minha presença não anulava a intimidade dos miúdos. Incrível. Marrusso parecia um daqueles marujos dinamarqueses que regressam do mar para apanhar morangos; Joana, a milady do Dartacão. Se for um filho-da-puta talvez tenha mais sorte, cogitou Marrusso. Não hesitou. Defronte do Sopas, onde há um cheiro sensacional a tubo de escape, num jipe topo de gama, Marrusso premiu o acelerador biológico bem a fundo e um éter perfumado tomou conta do ar, enrolando-se com o meu café fumegante. O Sr. Joaquim desligava as luzes. Está na hora, ó Mário. O Sr. Joaquim tinha o bigode húmido dos beijos da Dona Odília. 2 da manhã. A morte de cinderela foram os beijos fora de horas. Levantei-me para me sentar noutro sítio. Apenas a perspectiva mudou, a feira de Marrusso e Joana continuava. Os peitos tocavam-se, o que me cegava a visão dos seios de Joana, bem escondidos nos pêlos loiros e atrincheirados de Marrusso. A espada medieval estava lá, bem plantada, a espada que fora a lei de um namoro que só quisera conservar as aparências. Marrusso sabia que já não precisava de causar boa impressão. A Joana era bonita. Além do mais, era sua amante. Não havia lugar para mais ninguém. Mais ninguém cabia naquele jipe. Nem shivas, nem ratos Miccolli. Marrusso sentia-se livre de obrigações e jovem. Joana encontrara a sua alma gémea, um botão pronto a dar flor. Pela cara de satisfação de Joana, deduzi que abaixo da cintura de Marrusso havia tesouros de ternura. A noite escura caiu. Adormeci na relva do sopas, ao lado da Maria e do Cenourinha. Quando voltei a acordar, Joana desaparecera. Marrusso estava sozinho e o Sol dava a primeira luz da sua graça. Uma míuda aproximou-se. Caminhava com a cadência de um eléctrico na baixa pombalina, tinha óculos e uns lábios grossos marcados pelo sentimentalismo do hábito. Não cheirava a hortelã. Não havia candura. Não era Joana. Entrou no Jipe e beijou Marrusso. Marrusso deitou-se no banco de trás como um pastor alemão fatigado. A miúda abraçou o volante e zarpou. Os dias de felicidade de Marrusso apenas acabavam de começar…

P.S.: No capítulo seguinte, Marrusso viola uma galinha, perturbando a paz pública nas quintas de São José.

2 comentários:

Anónimo disse...

LOOOOOOOOOOOOOL
tais devaneios só poderiam provir dessa tua mente tresloucada ò grande narrador mário....
continua a sonhar com essas coisas...
imagino a história da galinha!
lol
completamente doido.... []

Shiva disse...

Agora disfarça oh Marrusso! Se continuas a negar a prosa fidedigna do sempre rigoroso e austero Marioargos pode ser que se ponham umas fotos ao barulho.
Dá-me é o número de telemóvel da pobre Catarina para lhe dar umas palavras de solidariedade e (talvez) declamar um poema do Xico. O que havia de acontecer à moça... Não há direito! Que o céu se abata sobre a tua cabeça!