terça-feira, 27 de agosto de 2013

Viagem ao mundo da Bundesliga

Tranquei a porta de casa e apontei o azimute para o centro da Europa, rumo ao país que toda a gente ama odiar – a Alemanha. Parti sem mapas, guias turísticos ou brochuras com os dez locais a não perder. Como deve ser, portanto. Prefiro trocar os postais ilustrados pela surpresa e o deleite do que for descobrindo enquanto desmorono imponentes canecas de cerveja e degluto sauerkraut, maultaschen e demais pratos típicos. No entanto, ainda antes de sentir o ar suevo, já tratara do mais importante: a aquisição do bilhete para o jogo Estugarda – Bayer Leverkusen no Mercedes-Benz Arena. Natürlich.


Desdenhado durante anos pela fantasia e tecnicismo latinos, o musculado futebol teutónico vive em estado de graça por estes dias. O atropelamento e fuga do Barcelona e do Real Madrid às mãos do Bayern e Borussia Dortmund, respectivamente, e o subsequente recital de bola que ambos deram em Wembley, na final da Liga dos Campeões, transformaram a Bundesliga na nova Meca de todos os que fazem dos 90 minutos uma liturgia imprescindível para enfrentar mais uma semana de trabalho. A primeira jornada da nova temporada confirmou e reforçou a crença dos milhões de fiéis nas novas virtudes que florescem nos relvados além Reno. Na verdade, foi como encontrar água fresca após atravessar o desértico período estival: 37 golos em nove jogos, média superior a quatro por encontro e resultados tão equilibrados como um empate a três bolas ou tão desnivelados como uma goleada das antigas por 6-1. Impossível não ficar extasiado perante um cartão de visita tão sumptuoso.

Quanto ao Estugarda, a equipa que iria apoiar daí por uma semana, começou a época com uma derrota por 3-2 no land Renânia Palatinado frente ao Mainz 05. Ibisevic e Martin Harnik fizeram os golos da formação orientada por Bruno Labbadia, treinador germânico de 47 anos que vai para a sua quarta época ao leme do clube. Esteve longe de ser o pontapé de saída ideal para os Schwaben, que procuravam no arranque da Bundesliga passar uma esponja sobre a má temporada anterior.

Ao reler as notas que apontei no meu bloco antes voar para a Alemanha, confirmei que a conquista do Deutsche Meisterschale em 2006 / 2007 foi um feito que tão cedo não se repetirá no sudoeste germânico. Bem podem os adeptos do Estugarda guardar em lugar seguro as festivas garrafas de cerveja, porque a equipa não passa de um anão de jardim ao lado dos colossos Bayern e Borussia. Na temporada passada, a equipa terminou em 12º lugar com um dos piores ataques (33 golos) e com uma das piores defesas (55). Registo pouco abonatório, apenas compensado pela presença na final da Taça da Alemanha, na qual não resistiu à locomotiva bávara na sua caminhada para o triplete (derrota por 3-2).


Por ter sido finalista vencido da DFB-Pokal frente ao campeão, o Estugarda iniciou esta temporada mais cedo devido aos soporíferos compromissos da Liga Europa. Quando lhe tocou em sorte o quase desconhecido Botev Plovdiv na terceira ronda de acesso ao play-off da prova, mesmo o adepto mais pessimista esperaria duas vitórias tranquilas. A equipa, contudo, restringiu-se aos serviços mínimos, passando graças a um empate forasteiro a uma bola, enquanto que em casa segurou o nulo. Resultados mais austeros eram impossíveis. Convenhamos que é um pecúlio medíocre para quem faz parte da toda poderosa Bundesliga. Já na Taça da Alemanha, a formação sueva bateu fora o Berliner FC Dynamo, da quinta divisão, graças a um bis de Ibisevic. Em suma, é com o pobre registo de uma vitória, dois empates e uma derrota que vou travar conhecimento na primeira pessoa com o conjunto de Baden-Württemberg, naquela que é a minha estreia absoluta na elite do futebol alemão.

O dia 17 de Agosto chega por fim e, para cúmulo, não me encontro nas melhores condições físicas. Por razões ainda por apurar (excesso de cerveja?), os meus intestinos tornaram-se numa imensa via verde onde a fluência do meu trânsito escatológico consegue ser superior ao trânsito motorizado na inóspita A23. Depois de uma noite difícil, a manhã desfez-se penosamente até que, gradualmente, começo a sentir-me melhor. Na minha carteira, e da minha fräulein, já reluzem os bilhetes do jogo que chegaram na véspera por correio. Quando abrimos o envelope, descobrimos que temos direito a utilizar gratuitamente os transportes públicos para irmos para o estádio e para regressarmos. É a organização alemã, e em específico da Bundesliga, a funcionar diante dos nossos olhos. Por estas e outras razões, os estádios germânicos apresentam as maiores enchentes na Europa. Outro aspecto a destacar é o preço do bilhete: pagámos 26€ cada, valor que está longe de ser elevado, sobretudo se considerarmos os ordenados que se pagam aqui comparativamente com Portugal. (Nestes momentos em que me fascino com algum aspecto da eficiente engrenagem teutónica, lembro-me sempre da resposta que o MC me deu no InterRail de 2009 quando saímos da Alsácia rumo a Berlim e gabei o comboio alemão em que íamos pela sua qualidade e luxo: “Mas era disto mesmo que eu estava à espera. Por alguma razão a Alemanha é o país mais avançado da Europa.” É provável que depois tenha rematado a sua observação com alguma invectiva à França e aos franceses, mas confesso que não me recordo.)


Aproveitando uma trégua momentânea dos meus intestinos, vou com a minha fräulein até ao Flohmarkt (feira ao ar livre) na Karlsplatz. Quando íamos a meio caminho, na ponte que dá para o Schlossgarten, cruzámo-nos com a equipa do Bayer Leverkusen que dava o seu passeio da manhã. Pareceu-me ver o Kiessling (já me cruzara com ele num jogo frente ao Leiria há alguns anos), enquanto que os outros eram simples anónimos para mim. Ainda pensei em gritar “Benfica!”, lembrando-lhes a eliminatória da Liga Europa do ano anterior, no entanto, o bom senso e o meu estado enfermiço não mo permitiram.

A hora do jogo aproxima-se. Apesar das nuvens ameaçadoras que se acastelam no horizonte e do vento que se levantou, parece que o sol vai brilhar. O apito inicial está marcado para as 15h30m, o que é mais uma diferença em relação a Portugal (e, já agora, a Espanha), onde reina o futebol à luz do holofote. Saímos de casa com tempo e apanhamos o metro em direcção às margens do tranquilo rio Neckar, na zona de Bad Canstatt, onde fica o Mercedes-Benz Arena, além do moderno e imponente museu da marca automóvel (vale bem a pena dar os oito euros para o visitar). A este propósito, refira-se que Baden-Württemberg é uma das zonas mais ricas da Alemanha, com a menor taxa de desemprego do país e sede de várias empresas mundialmente famosas (Mercedes-Benz, Porsche, Bosch…), as quais foram decisivas para o tão falado milagre económico após o final da II Guerra Mundial. Outra curiosidade: esta é a única província da Alemanha que produz vinho, pelo que as verdejantes vinhas proliferam quer pelas colinas em torno da cidade quer no centro. É de longe a região do país com o maior consumo per capita do néctar dos deuses, dando razão de ser à questão pertinente de Friedrich Schiller em 1782: “Ein Wirtemberger ohne Wein kann der ein Wirtemberger sein?” (“Um Wirtemberger sem vinho pode ser um Wirtemberger?”). No entanto, da minha experiência, os vinhos portugueses são bem melhores do que os produzidos nesta zona.


Quando saímos do metro, tenho a sensação de estar num cortejo silencioso de camisolas vermelhas e brancas. Um vasto rio humano, que gradualmente vai engrossando, dirige-se calmamente para o estádio. Não há passos apressados, nem gritos ou cânticos, sendo difícil perceber a excitação e a expectativa contagiante que normalmente antecedem os jogos de futebol. Enfim, formas diferentes de sentir em relação aos latinos, quase sempre mais esfusiantes e expansivos. Olhamos novamente para o verso do bilhete, onde temos a configuração do estádio com as quatro bancadas identificadas, pelo que não é difícil orientarmo-nos até à entrada mais próxima dos nossos lugares.

Já estamos dentro do recinto do Mercedes-Benz Arena, que refulge com a sua pala branca ao sol. Devido às sucessivas remodelações de que tem sido alvo, não aparenta em nada a idade que tem, exalando modernidade, com espaços amplos em redor. Por essa razão, nunca há a sensação de aperto apesar da multidão que se aglomera à sua volta. A título de curiosidade, refira-se que o estádio foi desenhado pelo arquitecto Paul Bonatz e mudou várias vezes de nome ao longo da História, tendo sido originalmente baptizado de Adolf-Hitler-Kampfbahn, aquando da sua fundação em 1933. Após a II Guerra Mundial, as tropas americanas utilizaram-no para jogar baseball, tendo-se chamado posteriormente Neckarstadion e mais tarde Gottlieb-Daimler-Stadion, em homenagem ao criador da Daimler e pioneiro no desenvolvimento do automóvel tal como o conhecemos nos nossos dias.  


Finalmente ouço dois adeptos cantarem nas imediações do estádio por breves segundos. O meu alemão (suevo?), contudo, não é suficientemente bom para percebê-los, mas trata-se de uma rima com a palavra Bayer Leverkusen. É provável que não estejam a desejar-lhes umas boas férias de Verão. Entramos dentro da Mercedes-Benz Arena com as suas bancadas totalmente vermelhas. Trata-se de um estádio elegante e apesar de ter capacidade para 60 mil pessoas nos jogos da Bundesliga, não me parece tão imponente como o Estádio da Luz. Vamos ficar num dos topos, na Cannstatter Kurve, bem ao lado da claque do Estugarda que vê o jogo todo de pé, uma vez que onde estão não há cadeiras. Este foi um facto que me surpreendeu na altura em que comprámos os bilhetes pela internet: afinal ainda existem os famosos terraces na Europa do futebol, os quais deram fama mundial aos adeptos e bancadas de tantos clubes, caso do Kop em Anfield Road. No entanto, por imposição da UEFA, não podem ser utilizados nas competições europeias, pelo que a capacidade diminui para 54 mil lugares.

Magotes de adeptos munidos de cachecol, camisola do clube e a imprescindível cerveja, aqui servida em copos de plástico de meio litro, vão preenchendo os seus lugares. Trata-se de uma outra novidade para mim: nos estádios alemães pode-se beber sem qualquer problema. Seria aliás uma blasfémia que se vendesse apenas cervejas sem álcool nos länder germânicos, onde a bebida é produzida com inigualável mestria. E a verdade é que, mesmo inundados em cevada, todos se comportam de forma civilizada, demonstrando um respeito pelos outros e pelo espaço público tão natural que é difícil de pôr em palavras. A este propósito, deve confessar que achei os alemães desta zona bastante simpáticos. Meteram conversa connosco no metro, no supermercado e, quando me viram abrir o mapa no meio da cidade, houve uma pessoa que veio ter comigo e que perguntou se precisava de ajuda. Sinceramente, só a ignorância é que nos faz continuar a alimentar tantos preconceitos em relação à Alemanha e aos seus habitantes. Actualmente deverá ser dos países mais multiculturais da Europa. Dois factos lidos num guia sustentam a afirmação anterior: os emigrantes constituem um terço da população de Estugarda devido, em grande medida, ao facto de ser uma zona de forte pendor industrial e Hamburgo é a cidade com mais mesquitas na Europa.


A voz viva e entusiasmada do speaker faz a apresentação dos novos reforços do clube. Vejo os nomes no painel electrónico e identifico-os na revista alusiva ao jogo que é distribuída à entrada do estádio. É um auxiliar precioso para quem não conhece a grande maioria dos jogadores, como é o nosso caso. Tem a cara, a posição e o número de todos os futebolistas do Estugarda e do Bayer Leverkusen e também as fichas de jogo dos encontros mais recentes dos Schwaben. E quanto ao histórico dos últimos confrontos com o adversário da Renânia do Norte-Vestefália? Também tem, além de uma reportagem sobre um jogo marcante entre ambos. Trata-se de uma publicação feita a pensar nos adeptos, ajudando-os a desfrutar melhor da partida. Além disso, é mais um pequeno exemplo que explica o crescimento da Bundesliga nos últimos anos, a qual atrai não apenas homens, mas também bastantes mulheres e crianças como posso ver à minha volta.

Em fila indiana, lado a lado, as duas equipas saem do túnel em direcção ao relvado impecável ao som de uma música que dá uma forte carga épica ao momento. Em simultâneo, o speaker anuncia os jogadores da casa um a um, dizendo apenas o primeiro nome, enquanto o público grita em êxtase o seu apelido. Os cachecóis vermelhos e brancos redemoinham em uníssono e as bandeiras altas com as mesmas cores ondulam na Cannstater Kurve. No meio há uma de cor amarelo vivo com o símbolo da cidade estampado  - um cavalo negro com as patas dianteiras levantadas. O resto do estádio aplaude de pé a estreia do Estugarda em jogos do campeonato no Mercedes-Benz Arena. Um ambiente eléctrico, de excitação, de expectativa nervosa, percorre as bancadas. Provavelmente deverá haver alguma semelhança entre isto e os momentos que antecediam as grandes batalhas, quando rufavam os tambores dos exércitos beligerantes, dispostos frente a frente. Canta-se entusiasticamente ao meu lado e agora os adeptos da claque esticam os braços, alinhados numa coreografia, seguindo as indicações do líder que se senta de costas para o relvado num banco mais elevado e grita palavras de incentivo por um megafone. Ao vê-los, e talvez por estar na Alemanha, vêm-me por momentos à cabeça épocas sombrias da História. Afasto de imediato esses pensamentos e concentro-me no jogo que acaba de começar.


Apenas com dois minutos decorridos, o eterno Kiessling quase faz o golo 100 pelo Bayer Leverkusen, ao desviar um remate frouxo de um colega seu à entrada da área. O seu intento, no entanto, foi travado pelos reflexos do guarda-redes Sven Ulreich que defendeu com a perna. O público aplaude a intervenção, tentando desta forma sacudir o nervosismo provocado pela entrada desastrada da equipa. O Estugarda procura atacar, mas rapidamente percebo que o seu futebol é falho de ideias e criatividade.

Nos primeiros minutos, o jogo passou por alguma indefinição, com demasiados passes errados, o que levou a minha fräulein a fazer a seguinte observação: “Estou a assistir a um jogo da III Divisão ou da Bundesliga?” Num assomo de brio, a formação de Bruno Labbadia empertigou-se e, numa excelente jogada pela direita, Ibrahima Traore apareceu já dentro da área com tempo e espaço suficiente para marcar. O estádio levanta-se como uma onda que cresce antes de rebentar ruidosamente. É impossível falhar, vai ser golo… mas o remate sai lado para frustração dos 40 mil espectadores que quase lotam o Mercedes-Benz Arena. Erguem-se os braços como apontassem para o céu, clamando por uma intervenção divina; põem-se as mãos na cabeça; ouvem-se urros de impotência; sentamo-nos resignados e a claque volta a entoar cânticos de apoio. Ainda inconformado, um adepto que está na fila imediatamente a seguir à minha vira-se para trás e diz algo como “tinha a baliza à sua frente, como é que é possível!?” Lá atrás, a defesa sueva continua a demonstrar que tem a consistência de um apfelstrudel ao sol e, se não fosse o poste, o Bayer Leverkusen já estaria em vantagem, após remate, dentro da área, de Sydnei Sam.


O jogo prossegue em toada morna. Na bancada, os incansáveis adeptos da Cannstater Kurve cantam repetidamente algo como “Schiessen am Tor” (“Chutem à baliza") ou VFB (que em alemão é "FAU FB"). O Estugarda, contudo, não corresponde dentro de campo e Kiessling volta a estar perto de marcar num remate por cima. Sem ideias, o futebol ofensivo da equipa de Labbadia é presa fácil para a defesa forasteira. Arthur Boka, responsável pela primeira fase de construção de jogo, é incapaz de soltar um pingo de criatividade das suas botas, limitando-se a fazer passes longos para as laterais, quando não para fora. Tirando algumas incursões voluntariosas de Ibrahima Traore, não há um rasgo, um desequilíbrio, um lampejo inesperado de génio que ilumine o breu de ideias do conjunto de Baden-Württemberg. Lá à frente, Ibisevic, avançado que fez fama no Hoffenheim e que tinha curiosidade em ver jogar, faz-se notar pela ausência. Nenhuma bola lhe chega em condições. O Bayer Leverkusen continua a ameaçar, com os seus ataques a serem conduzidos pelo sul-coreano Son (bom toque de bola) e por Sam. Até que perto do intervalo surgiu o inevitável. A defesa do Estugarda foi ultrapassada, Boenisch ganhou a linha de fundo no lado esquerdo do ataque e cruzou rasteiro para o corte de Schwaab na direcção da própria baliza. Pouco depois, terminou a primeira parte para desânimo dos adeptos locais, desencantados por um desempenho tão pobre dos Schwaben.

Ao intervalo, dei vazão aos meus incansáveis intestinos e constatei que as casas de banho do estádio do Estugarda fazem inveja às que existem em muitas pastelarias em Portugal em termos de asseio. Não há um único gatafunho nem frases filosóficas sobre a mui nobre arte de defecar nas portas, acreditam? Pois acreditem, assim como havia papel higiénico, papel para as mãos e sabão, o que tantas vezes falta em muitos estabelecimentos comerciais do nosso país.


Com os copos de cerveja atestados, os adeptos partiram para a segunda parte com a esperança de ver, por fim, bom futebol. Labbadia deixou nos balneários o inconsequente Arthur Boka e Konstantin Rausch e fez entrar o internacional alemão Cacau e Timo Werner. No entanto, para desânimo geral, o Bayer Leverkusen voltou a entrar melhor, estando mais perto do golo em várias situações.

Com o passar dos minutos, os forasteiros começaram a recuar cada vez mais no terreno com o intuito de segurar a vantagem e o Estugarda aproveitou o convite para se acercar da baliza de Bernd Leno. As incursões de Cacau galvanizavam o público, mas a má qualidade dos passes e dos cruzamentos (quase sempre demasiado largos), facilitavam o trabalho do adversário. Em contra-ataque, o conjunto do finlandês Sami Hyppiä podia ter resolvido o jogo, mas Kiessling foi displicente ao demorar tanto tempo, permitindo o corte da defesa quando estava em boa posição para marcar.

Sempre com o coração, o futebol sem ideias dos Schwaben lá ia tentando furar a defesa dos Werkself. O remate de longe de Christian Gentner passou a milímetros da barra para desespero da Cannstatter Kurve que, frustrada, fazia esvoaçar copos de cerveja contra a rede de protecção. Numa jogada confusa dentro da área, o fantasma de Ibisevic quase desceu à terra, mas a bola acabou por ser rechaçada e, já em desespero, Timo Werner rematou rasteiro junto ao poste, mas o guarda-redes Bernd Leno defendeu para canto. Foi o canto do cisne, um cisne bem tosco e sem criatividade, por sinal, que acabou derrotado por um adversário que criou oportunidades suficientes para evitar o sofrimento por que passou no último quarto de hora.


No final, o guarda-redes Bernd Leno, bastante contestado por perder tempo nos pontapés de baliza (valeu-lhe um amarelo), provocou a turba ruidosa da Cannstatter Kurve, o que originou um tête-à-tête com Ibrahima Traore, ao qual acorreram de pronto os jogadores das duas equipas. Na bancada voavam copos de cerveja, revistas e insultava-se o guardião do Bayer Leverkusen.

Sanadas as escaramuças, os jogadores do Estugarda agradeceram o apoio incansável dos adeptos que retribuíram com uma ovação, apesar da exibição fraca a que tinham assistido. Foram sem dúvida o décimo segundo elemento em campo e mereciam uma equipa que praticasse um futebol mais agradável. A continuar assim, os Schwaben vão voltar a sofrer bastante na luta pela sobrevivência na Bundesliga. Quanto à Liga Europa, dificilmente passarão da fase de grupos.


Saímos do estádio sem qualquer tipo de problemas e dirigimo-nos para a estação. Apesar da derrota, os adeptos falavam animadamente sobre o jogo. Dois metros tinham acabado de sair e um minuto depois chegaram outros dois, vazios. Entrámos e fizemos a viagem sentados, sem nunca nos sentirmos apertados e sem qualquer tipo de atropelos, deixando bem patente o civismo exemplar de toda a gente. Assim vale a pena ir ao futebol, mesmo quando o jogo deixa a desejar como foi, infelizmente, o caso. De qualquer modo, aqui onde estou, na companhia de uma excelente cerveja de trigo alemã, aproveito para fazer um brinde à Bundesliga e ao meio século de vida comemorado este ano. Prost!


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