segunda-feira, 28 de março de 2011

Leitor, lê-nos como se não houvesse letras amanhã

Caro leitor, é com incontida emoção que o Jornal O Naniko está neste momento a largar duas pingas de urina pelas páginas abaixo por voltar a ser lido por ti. Como nos sentimos felizes quando passas os teus bonitos olhos pelas linhas que escrevemos… Sobretudo quando nos lês na diagonal. É uma sensação indescritível. E que saudades tínhamos... Um suor frio galopa neste preciso momento pelos nossos parágrafos acima à medida que a tua íris desliza lascivamente pelos contornos das letras; as vogais ficam todas em pele de galinha; as vírgulas transformam-se em exclamativos pontos de exclamação mesmo que a sintaxe da oração não o justifique!; os pontos finais suspiram por mais; as linhas estendem-se até ao infinito em êxtases emocionados, como esta aqui que continua e continua e continua sem fim à vista, a curtir uma de Saramago, até que chega a um ponto em que tenho de lhe pôr um ponto, de preferência parágrafo, mas não consigo, por isso continuamos ali em baixo, não, ali, inclina um pouco mais a tua cabeça, não, no outro sentido, isso, aí

Quando relês a mesma linha também sabe bem, mas convém não exagerar. As outras frases ficam roídas de inveja e vêm logo com a conversa de que não gostam de fazer parte dos textos que escrevemos, que são mal pagas e que querem emigrar para artigos e blogues onde são grafadas com dedos besuntados de caviar, como o Abrupto. Em retaliação, eu, director, relembro-lhes que anda por aí um novo acordo ortográfico e se necessário for aplico-o de imediato sem direito a discussão. Assustadiças como são, as palavras engolem as suas próprias palavras e vão pregar para outra freguesia. E foi assim que recentemente assinámos um bonito pato de não agressão, não foi pacto? E começámos todos a falar com elevação e correção e não houve mais nenhuma ação e atividades subversivas contra mim, porque mesmo sem enfardar ostras e cadelinhas também sei ser abruto. Estou a brincar, não se vão embora porque ainda temos muito que contar ao nosso estimado leitor que, a esta hora, já deve estar a um clique de se trasladar para o redtube.


É verdade que nos votámos deliberada e conscientemente a um prolongado silêncio, o que de maneira nenhuma deve ser confundido com inacção. Na sombra estivemos a trabalhar para voltarmos a dar vida a esta prístina infusão de ideias, reflexões, mundividências e cidreira, familiarmente chamada blogue dos Nanikos FC. Apenas regressámos agora porque no passado mês de Dezembro a nossa redacção foi contactada por Julian Orange, fundador da organização NanikLeaks, para a publicação de milhares de telegramas confidenciais da embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Lisboa sobre o nosso muy nobre e estimado clube. O acervo de documentos para análise, ordenação e publicação revelou-se tão vasto e complexo que este jornal teve de pedir ajuda ao matutino O Bombo de Lavacolhos, ao hebdomadário Regadio de Artes, Letras e Ideias e ao noctívago digital Transumância de Notícias.

Foram cerca de quatro meses de aturado trabalho por entre uma floresta cerrada de telegramas e post-its. A nossa tarefa consistiu sobretudo em separar a comunicação despicienda e irrelevante daquela que nos pareceu importante e que, segundo a nossa avaliação, merece ser publicada neste espaço depois da devida correcção das imprecisões de facto e da necessária contextualização. Agora que estou a chegar ao cume deste trabalho homérico (se não mesmo ciclópico e quiçá hercúleo) posso escrever, com a escrita desafogada pela vista que contemplo aqui de cima, que a ingerência da embaixada dos EUA no quotidiano dos Nanikos FC é, sem mácula de dúvida, assustadora. O nível de detalhe das informações que os sucessivos embaixadores americanos obtiveram ao longo dos últimos anos sobre cada um dos elementos do clube, obrigará a direcção a rever a sua estratégia de comunicação para não voltar a ser inconscientemente manipulada pelas teias omniscientes, omnipotentes, omnívoras e omnipresentes do Tio Sam.

A informação que doravante começaremos a publicar foi submetida a regras bastante rígidas. Todos os visados nos telegramas foram previamente contactados para que nenhuma questão de segurança fosse posta em causa: a nossa investigação não pretende fazer perigar a vida de quem quer que seja, mas antes informar e contribuir para o esclarecimento da opinião pública sobre a actividade diplomática da embaixada dos EUA que visou os Nanikos FC.

Estimado leitor, é no seu interesse que publicaremos estes telegramas. Fazêmo-lo com a plena convicção de que o mundo não ficou mais perigoso depois da NanikLeaks, mas mais bem informado.

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