quinta-feira, 9 de abril de 2009

Expedição na Arrábida

Outrora verdejante e aprazível, a Margem Sul é nos dias que correm um deserto inóspito. Ao longo da cor torrada das dunas e planícies que dominam a paisagem, são poucas as cidades que subsistem num ambiente tão adverso à vida. Arruinados pelo avanço inexorável das areias estéreis, Almada, Seixal e Barreiro apodrecem em ruínas sob o calor abrasante. E nos seus meandros, tribos hostis e andar simiesco de MC’s, writers, b-boys e afins impõem a sua lei de lata em punho e chapéu na cabeça, conspurcando tudo à sua passagem com riscos e desenhos ininteligíveis. Desesperados, magotes de deserdados tentam diariamente atravessar o rio em busca de um pedaço de terra arável, mas do outro lado especuladores e agiotas sobem brutalmente o preço das propriedades, numa exploração sem escrúpulos da miséria humana.

Porém, há uma zona que resiste à desertificação. Chama-se Serra da Arrábida e, inexplicavelmente, mantém a pureza e frescura originais de há milhões de anos, como se a ampulheta do tempo a tivesse poupado à queda das suas areias. Indiferente à desertificação que a circunvizinha, a Natureza explode e germina ali com uma energia selvagem, cobrindo as suas encostas com vários matizes de verde numa extensão de centenas de quilómetros. Árvores enormes furam o mato denso num desafio perene à gravidade e animais desconhecidos habitam por entre grutas e covis, afastando a presença humana.

Intrigado com este fenómeno e desejoso de encontrar uma solução para o problema da desertificação que assola a Margem Sul, decidi organizar uma expedição na Arrábida. Talvez encontrasse aí, no coração latejante da Natureza, o elixir para restituir o verde à minha terra. Assim, eu, Shiva Mendes Pinto, parti rumo ao desconhecido juntamente com Bojo Ivens e Metal Serpa Pinto, dois intrépidos exploradores habituados à inclemência dos ventos mais gélidos e à aridez dos desertos mais escaldantes.

Como combinado previamente, fui buscá-los montado no meu camelo a uma povoação chamada Monte da Caparica num domingo de manhã e, lado a lado, dirigimo-nos para a Arrábida, que lá longe nos lançava um olhar selvagem. Quando nos encontrávamos já muito afastados de qualquer povoação, deixámos os camelos a dez quilómetros de distância da encosta da Serra e começámos a expedição.

Juntos trilhámos caminhos pedregosos; juntos bordejámos com os nossos passos ravinas escarpadas onde, lá em baixo, as ondas se despenhavam em explosões de branco contra as rochas; juntos penetrámos e arranhámo-nos no mato ignoto e cerrado que nos cercava por todos os lados; juntos entrámos em grutas gotejantes, onde ainda ardiam velas devotas a antigos deuses. Vimos também espécies desconhecidas e um mundo vegetal por classificar; cruzámo-nos com civilizações e credos milenares e deixámos as nossas pegadas em praias virgens, cujo único rasto pertencia a felinos e aves de grande porte…

Tudo o que vimos, sentimos e sofremos está registado nas fotos que se seguem e que ficarão para a posteridade. E apesar de não termos encontrado a solução para a Margem Sul, fizemos entre os três o pacto de continuarmos a trilhar os caminhos insondáveis da Natureza até encontrarmos uma resposta.








































2 comentários:

Joao Martinho disse...

Para quando a próxima expedição na margem sul?

Shiva disse...

No domingo de 26 de Abril podemos ir ao longo do areal até à Lagoa de Albufeira.
Pronunciem-se, Metal Serpa Pinto e Bojo Ivens